Como um delinquente bêbado, pouco mais
da metade da população decidiu continuar acelerando inconsequentemente na mesma
curva que seus vizinhos capotaram. Capotará também, porém, levando consigo a
outra metade da população que o acompanha sentada à sua direita, no banco do
carona.
Devemos ter pena dessa outra metade?
Devemos vê-la como inocente? *Não.* Apesar de sua lucidez e honestidade, ela
sempre foi passiva, tanto, que virou cúmplice de sua própria tragédia. Foi
covarde. Teve medo de impor limites àqueles que pediram e depois assumiram o
volante.
Os culpados pela reeleição de Dilma:
Fernando Henrique Cardoso por sua
tolerância com as sabotagens, ofensas e calúnias que sofreu durante seu
governo, o que soou aos ouvidos do PT como uma permissão para continuar com
aquela estratégia de se chegar ao poder.
Qual foi sua atitude diante dos falsos
dossiês sobre sua vida? Nenhuma.
Qual foi sua atitude com aqueles que
invadiram, depredaram e saquearam (com apoio de Lula) a fazenda de sua família?
Nenhuma.
Fernando Henrique Cardoso não foi homem nem
para defender sua esposa (quem dedicou sua vida a projetos sociais) das
calúnias que sofreu.
Nas três eleições seguintes, José Serra
e Geraldo Alckmin concorreram à presidência sem bater no PT afundado em casos
de corrupção e permitindo que Lula e Dilma pejorassem as privatizações de FHC.
Nesses 12 anos de governo petista, o
PSDB não apenas fez uma oposição frouxa, mas assistiu passivo o PT promovendo
uma massiva campanha de desconstrução do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Enquanto os tucanos tentavam conquistar
votos exibindo a beleza de suas penas, a imprensa e a Justiça também se
continham diante dos desvios e afrontas da esquerda liderada pelo PT.
Temendo serem vistos como a
continuidade da postura antidemocrática do regime militar, a maior parte dos
jornalistas, dos meios de comunicação, dos promotores e dos juízes deram espaço
e liberdade para o movimento socialista divulgar suas ideias, por mais absurdas
que fossem Lula construiu carreira pregando a espoliação do capital e da
propriedade privada.
Viram, passivos, o PT sendo preenchido
por aqueles que defendiam o alinhamento do Brasil com todos os líderes da
extrema esquerda latino-americana.
Ignoraram o Foro de São Paulo.
Assistiram o PT acolhendo e projetando
politicamente ex-guerrilheiros e comunistas declarados. Livraram muitas e
muitas vezes o PT e sua militância do peso da lei para evitar serem taxados de
repressores.
Obviamente, artistas e intelectuais
também passaram a endossar todas as ações de Lula e do PT por vê-los como um
poema revolucionário que levaria progresso ao país.
Sustentando esta tolerância
irresponsável estavam pequenos empresários, profissionais autônomos e
assalariados comuns que tentavam construir suas vidas por si mesmos, por meio
de seus esforços e talentos.
Mesmo sentindo a faca estatal lhe
cutucando o pescoço com cada vez mais força por meio de impostos e burocracias,
mantiveram-se indiferentes aos absurdos do governo por... não gostar de se
manifestar sobre essas coisas de política; covardia que permitiu aos cretinos e
canalhas ditarem o caminho que o Brasil seguiria.
Aqui estamos, assistindo uma
ex-guerrilheira comunista sendo reeleita Presidente da República, ovacionada
por uma militância que prefere ostentar bandeiras do PT em vez de bandeiras do
Brasil.
Aécio Neves e seus eleitores foram
bravos, porém, tardios. Levantaram-se apenas quando o PT já estava com a maior
parte da máquina estatal trabalhando para si. Depois de tantos anos sendo
complacentes com as boas intenções e com os métodos petistas, agora sentem o
amarguíssimo gosto de se verem condenados a serem meros financiadores de um
projeto ideológico.
Gabeira, Gullar e outros intelectuais
demoraram demais para se posicionar contra os absurdos do PT.
Como símbolo da covardia da metade não
corrompida do Brasil, aponto Joaquim Barbosa. Mesmo sendo reconhecido pela
população como um herói por seu posicionamento no processo do Mensalão,
retirou-se covardemente de cena logo quando a sociedade mais precisava dele.
Foi ameaçado e caluniado de todas as maneiras pelo PT, mesmo assim se manteve
distante do processo eleitoral. Teriam bastado duas ou três manifestações
públicas dele em apoio ao candidato do PSDB para Dilma perder muitos votos. Mas
não... Joaquim Barbosa não quis se meter na política. Prezou sua imagem. Foi
covarde.
Infelizmente, foram em vão os esforços
e a coragem das poucas pessoas que nestes anos todos denunciaram os absurdos do
PT.
A certeza que tenho é que a metade não
corrompida da sociedade voltará à sua covarde e histórica reclusão enquanto o
PT acelerará a concretização de seu projeto de poder; e ninguém poderá acusá-lo
de ter nos enganado.
Todos os seus objetivos sempre foram
muito claros. Suas ações, seus pronunciamentos, suas alianças... Nada foi
escondido.
Dilma Rousseff deixou bem claro que não
mudará a condução da economia, que não enxugará a máquina pública, que não
tirará nenhum companheiro das estatais, que não deixará de financiar projetos
em Cuba e na Venezuela. O Brasil vai quebrar, pois o PT precisa que quebre.
Quanto pior for a situação do país,
Dilma terá mais justificativas para intervir na economia, na justiça, na
imprensa e na liberdade das pessoas.
O PT quer tirar o poder político e
econômico da classe média para torná-la dependente do Estado.
Os ricos que não forem embora se
aliarão ao partido. Anotem:
1.
Dilma forçará sua reforma política para transferir poder do Legislativo
para o Executivo e para os movimentos
sociais ligados ao PT;
2.
Perseguirá, sem pudor, toda a Justiça e imprensa não alinhadas ao PT,
anulando os processos que estão em
curso, blindando Lula de toda e qualquer acusação;
3.
Remodelará a constituição de modo que preserve o PT no poder;
4.
Colocará sua militância na rua para intimidar qualquer manifestação da
sociedade independente;
5.
Efetivará as diretrizes do Foro de São Paulo, institucionalizando um
bloco socialista de ajuda mútua entre
Cuba, Venezuela, Bolívia e Argentina.
Adorarei reconhecer, daqui uns anos,
que minhas projeções estão erradas mas, hoje, não me é possível enxergar como
processos distintos o que acontece aqui e o que aconteceu na Venezuela, aonde a
maior parte das pessoas que agora vão às ruas protestar contra o governo foram
às ruas apoiá-lo anos atrás. Arrependeram-se tarde demais.
Arrependeram-se não como um delinquente
depois da capotagem. Arrependeram-se como um carona que
permitiu ser conduzido por um bêbado irresponsável.
Agora, lá estão os venezuelanos, presos
a uma maca e sobrevivendo de soro.
Logo, o Brasil será um "país de
arrependidos."
João Cesar De Melo -
Arquiteto, artista plástico e escritor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário