O PAÍS DO
DESCOMPASSO
O Partido
dos Trabalhadores passou a maior parte de sua história sustentando que era um
partido diferente. E realmente o foi, aliás, até mesmo antes de sua fundação.
Contrariando todas as expectativas que o precedia, preferiu primeiro preservar
o futuro político e pessoal de suas lideranças sindicais criando um partido
político para abrigá-las dando início a mais desprezível dinastia
partidária-sindical que se consolidaria ao longo de mais de trinta anos.
Somente
depois de certificar-se que seus valentes jamais necessitariam ter de voltar a
pisar num chão de fábrica se dispôs a considerar a criação de uma central
sindical. Aí já era tarde. Maculada na sua essência pela perfídia perpetrada
por Lula e seus sequazes, as lendárias greves do final dos anos 70 do século
passado, que se revelaram para os trabalhadores como o princípio das
oportunidades, não passaram de um embuste histórico cujo legado restringiu-se a
consolidação de uma elite classista inepta debilitada pela vassalagem ordinária
e que tem seus valores éticos e padrões morais determinados de acordo com as
necessidades de sindicalistas pelegos e de políticos oportunistas e venais.
No primeiro
embate de dimensão nacional, mostrou à sociedade brasileira o quanto não era
igual às demais legendas. Surfando na crista da onda mais alta do revolto mar
da mesquinharia, não se importou em flertar perigosamente com o retrocesso e
colocar em risco o processo de redemocratização do Brasil negando-se a
participar da histórica eleição que, além de consagrar Tancredo Neves como o
primeiro presidente pós-ditadura, encerrou o período de exceção que vigorava há
mais de duas décadas.
Assim como
traíra os trabalhadores, não hesitou em trair os brasileiros estabelecendo como
prioridade difundir o seu fracassado projeto de confirmação ideológica que o
decorrer inexorável do tempo se incumbiria de desmistificar mostrando que toda
aquela encenação medíocre tratava-se apenas de pano de fundo para mascarar a
manobra torpe que convergia para o encurtamento do caminho que o separava do
poder e ajustava as coordenadas da rota do partido na insana jornada ao centro
da hegemonia.
E assim foi
se firmando vendendo a idéia de que era um partido diferente, esgueirando-se,
no entanto, por detrás de uma pureza ideológica de araque muito bem articulada,
mas que revelou-se mero atalho para viabilizar sua estratégia de domínio
absoluto. Vencida esta etapa, desfez-se dos farrapos ideológicos que ainda o
mantinha atrelado à arenga socialista que havia sido tão útil, mas que poderia
ser um entrave ao seu plano de perpetuar-se no poder, e deixou transparecer toda a dimensão de sua diferença ao
apoderar-se indevidamente das realizações de governos anteriores, ao romper com
o seu passado e aliançar-se com o que
havia de pior na política nacional, ao juntar-se com a fina flor do capitalismo
selvagem e ao consumar, sem vergonha, o
maior curral eleitoral que já se teve notícias.
Por direito
conquistado nas urnas, coube aos petistas, liderados pelo presidente eleito, a
missão de dar andamento a decantada maneira diferenciada de executar a
administração pública e os acontecimentos que se sucederam desde 2003 provaram
que eram diferentes até mesmo na prática da corrupção. Inovaram na forma de
estabelecer a maioria no Congresso Nacional inventando o mensalão e se
superaram ao desprezar os métodos antiquados praticados por outros presidentes
que dedicavam, ainda que minimamente, algum lampejo de decência na hora de
costurar acordos políticos para fortalecer suas bancadas no Senado e Câmara dos
Deputados lançando o revolucionário sistema de aluguel de base de sustentação política.
No
transcorrer dessa parceria indecente, tornou-se evidente algum desacerto na
fixação do preço ajustado quando da redação do texto pactuado, pois virou
rotina locatários coléricos manifestarem publicamente sua indignação com o
descumprimento de cláusulas contratuais por parte do locador que, ressalte-se,
sempre agiu com presteza reajustando os preços a contento o suficiente para
selar a paz nesse antro de promiscuidade. Pelo menos enquanto a cólera não
agitar novamente essas águas putrificadas, proibidas para o consumo dos
políticos honestos.
Sempre
perseguindo o rastro da diferenciação, em toda nossa história republicana
nenhum outro presidente teve a coragem de ser tão diferente quanto a que Lula
ousou ter. Passou os oitos anos dos seus dois mandatos alegando não saber de
nada, mas sempre carregou na alma o indisfarçável desejo de apoderar-se de
tudo. Atenta, a regra exigiu a exceção que lhe é devida e, como castigo, fez de
Paulo Maluf a única igualdade na diferença petista. Lula é exatamente igual a
ele!
Mauro Pereira
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