A SOCIEDADE ANDA PARINDO
MARGINAIZINHOS!
Maio 14, 2014
by Tribuna da Internet
Eduardo Aquino
Em tempos em que se
discute a redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos, pouca atenção se dá
a um fenômeno cada dia mais crescente: a maldade, a violência e a impunidade
são fruto da ausência firme de autoridades e de uma sociedade cada vez mais
desigual, trancada em si e alienada.
Tome-se o exemplo de um
assalto em plena tarde de terça-feira em São Paulo, em que dois menores de 11 e
14 anos (!) agrediram uma senhora em um estacionamento de um shopping – antigo
local seguro de compras – e, perseguidos pela PM por vários quilômetros,
acabaram batendo o carro em outro e trocando tiros com os policiais. Entre os
feridos por balas perdidas e pelo acidente, cidadãos trabalhadores e inocentes,
vítimas de uma tragédia sem fim. Levados à delegacia, conforme reza o Estatuto
da Criança e do Adolescente, devido à idade mínima, ambos tiveram seus pais
chamados para se responsabilizar.
A passagem pela
instituição que em São Paulo se chama “Casa” (antiga Febem) não foi possível
pela pouca idade. Entrevistada, uma das mães, aos prantos, diz: “não tem jeito
com esse menino,.... é o cão,....saio de casa às 4h da manhã, chego às 11h da
noite, trabalho honestamente, mas ele não vai para escola, fica na rua com má
companhia, usando droga e assaltando!”.
SEM LIMITES
Então, eu pergunto: cadê
pai e mãe para dar castigo, punir, estabelecer limites? Na sua ausência, quem
deverá exercer esse papel? Avós, familiares, vizinhos, creches sociais, babás
para classes mais abastadas? Ou seriam escolas em horário integral, projetos
esportivos comunitários, trabalho de ONGs que estimulassem arte, cultura,
ecologia? Pois o certo é que na fase pré-puberdade é que se moldam mais
firmemente a estrutura do caráter, as primeiras noções de cidadania, ética e
moral. E o que dizer da formação religiosa, que por séculos inibia as
tendências instintivas para violência, sexo, transgressões em geral?
Um estudo que gosto de
citar quando assunto semelhante vem à tona é o caso dos adolescentes elefantes.
Tudo começou quando um dos parques de preservação de elefantes ficou
superpovoado. A solução encontrada foi transferir parte do bando para outro
parque, a centenas de quilômetros, na África do Sul. Para tanto, optou-se pelo
embarque dos menos pesados, portanto crianças e adolescentes. Tudo certo, até
que, passado algum tempo, chegaram notícias de comportamento atípico dos
elefantes, matando outros animais, invadindo tribos, destruindo construções,
agressivos entre si, entre outros relatos, o que desafiou veterinários,
biólogos e estudiosos.
SOCIEDADE MATRIARCAL
Após uma série de
encontros e estudos, verificou-se que a sociedade dos elefantes é matriarcal (a
fêmea exerce poder e domínio) e que, sem os adultos para controlá-los,
puni-los, estabelecer hierarquia, limites, o bando de elefantes adolescentes se
tornara desajustado, com má índole, violento e não sociável, e que não
adiantaria retorná-los a seus pais e parentes, pois houvera uma mudança de
caráter irreversível. Após polêmicas , o governo sul-africano autorizou que
fossem abatidos e mortos em caçada.
Quem se interessar por
uma ciência chamada “etologia”, que compara o comportamento animal com os seres
humanos, poderá verificar situações como esta relatadas entre chimpanzés,
leões, etc. Então, pergunto: quem será por nós? Pois, se por um lado, a revolta
tem levado a tristes casos de linchamento, somos nós, ricos, remediados e
pobres que, como coletivo, atendemos pelo nome de “sociedade”, quem tem a
culpa, das gerações de meninos de rua, órfãos de nós mesmos, gerados por um
ventre social doentio, desmamados à força, nutrindo-se do pó, das pedras,
vingando-se sem misericórdia nos tiros, tirando dos “bacanas” o que julgam precisar
para se igualar ao sonho consumista e às vaidades fúteis.
A guerra urbana não
distingue herói de bandido, bons ou maus. Somos vítimas e autores das
atrocidades que nos fazem ter prisão domiciliar, sair para trabalhar, voltar
correndo na lentidão dos transportes públicos e privados, com muros altos,
cercas, alarmes e muita, muita reza!
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