Num Brasil
conturbado como o atual, só a sua população, majoritariamente bem-intencionada,
pode assegurar o melhor para a Copa e para o futuro do país.
A
proximidade da Copa tem intensificado nos países com seleções inscritas para o
certame a disseminação de recomendações para turistas que acompanharão os jogos
nem sempre coerentes com a realidade. O Brasil tem, sim, dificuldade de cumprir
prazos de obras, carências sérias de infraestrutura, criminalidade desenfreada,
desigualdade social e doenças que já deveriam estar há muito sob controle, além
de enfrentar a insatisfação de parcela da sociedade com os gastos impostos pelo
certame. O país costuma também ser visto preconceituosamente no Exterior como
paraíso sexual. Assim como ocorre com a população de qualquer país, porém, os
brasileiros têm suas peculiaridades, mas não merecem ser julgados pelos
estereótipos, muito menos pelos erros de seus governantes.
Entre as
características indissociáveis da população, está a de saber aproveitar bem
seus momentos de lazer, além da paixão pelo Carnaval e pelo futebol. Ainda
assim, a imagem do brasileiro está longe de corresponder à de alguém deitado na
rede, como expôs recentemente uma publicação britânica. E, se a produtividade
dos trabalhadores deixa mesmo a desejar, essa é uma questão que não se deve a
razões culturais. Os brasileiros têm uma jornada oficial de trabalho superior à
de muitas potências europeias – e não poderia ser diferente numa economia que
precisa gerar o suficiente para fazer o país avançar. Durante as recentes
greves no transporte coletivo, trabalhadores reafirmaram que nem mesmo sem
condução se resignam a faltar ao serviço.
Se há
problemas de produtividade, é porque ainda falta à mão de obra brasileira, de
maneira geral, mais tempo de escola, por conta de descasos históricos de
governantes com a educação. A imensa maioria dos brasileiros não desiste também
de trabalhar, mesmo arcando com uma carga de impostos entre as maiores do
mundo, sem uma adequada contrapartida em serviços públicos eficientes. Neste
ano, os brasileiros precisarão trabalhar 151 dias – até 31 de maio, antevéspera
da Copa –, só para pagar impostos, conforme o Instituto Brasileiro de
Planejamento e Tributação (IBPT).
A Copa não
deve ser usada para enaltecer o país e sua população de forma ufanista e
idealizada, ignorando suas mazelas. Constitui-se, porém, numa oportunidade para
os brasileiros exibirem suas qualidades, que são muitas. Uma delas é a de que é
um povo trabalhador e cumpridor de seus deveres. Num Brasil conturbado como o
atual, só a sua população, majoritariamente bem-intencionada, pode assegurar o
melhor para a Copa e para o futuro do país. Os ganhos serão maiores com
políticas continuadas de educação, independentemente de quem estiver no
governo.
Editorial - Zero Hora, Porto Alegre - 26/5/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário