A conquista do oeste americano, iniciada em 1807 e concluída em 1912, deu margem a um festival de criminalidade e desordem que beirava ao caos. Só não atingiu este estágio com a criação dos Delegados Federais, denominados U.S. Marshals, a mais antiga força policial dos Estados Unidos. Mas, ao mesmo tempo, lançou os Estados Unidos para o topo, ultrapassando a Inglaterra e tornando-se a maior potência econômica do mundo.
A descontrolada conquista do oeste, caracterizada na luta contra os índios e nos filmes de faroeste, eram bem retratadas num programa de televisão chamado "Terça Sem Lei" e exibido todas as terças-feiras.
Parece que estamos chegando neste nível, o que me dá a esperança de que por volta do ano 2214, possamos ser, justificadamente, um país do primeiro mundo.
Se estou enganado, digam que isto que leio é fantasia:
Guilherme Boulos, o coxinha extremista, não quer nem saber: ou tudo ou sangue |
A sua turma
invadiu um terreno privado nas imediações do Itaquerão, nomeou a área de Copa
do Povo e de lá ninguém sai, assegura o rapaz. Hoje haverá uma audiência
pública para tratar do assunto. Ele ameaça: “Se a opção da construtora e dos
governos for tratar a questão como caso de polícia e buscar garantir posse sem
nada para as famílias, vai haver resistência. Se querem produzir uma Copa com
sangue, essa é a oportunidade que eles têm”.
Por que
esse rapaz fala assim, com esse desassombro? Porque o prefeito Fernando Haddad
já subiu num caminhão de som do seu movimento para discursar. Porque a
presidente Dilma Rousseff, hoje a chefe da baderna nacional, já o recebeu
depois de ele liderar invasões. Agora ele se tornou personagem frequente do
noticiário e chega a conceder entrevistas, na linha papo social-cabeça, para o
encantamento da ignorância deslumbrada.
E depois
alguns idiotas se espantam que motoristas de ônibus descontentes com um reajuste
de salário promovam o caos da cidade. Ora, por que não? Se o Guilherme, da
família Boulos, pode, por que o Severino, da família Silva, não pode? Todos
estão cometendo crimes. A questão é saber por que algumas práticas criminosas
causam indignação, e outras, encantamento.
Considero,
sim, que a eventual reeleição de Dilma fará um mal gigantesco ao país. E, por
isso, eu poderia estar a aplaudir, em razão, digamos, de afinidades e
“desafinidades” eletivas, esses movimentos de protesto contra a Copa. Mas não
aplaudo! Sempre achei essa conversa de “educação e hospital padrão Fifa” uma
besteira, uma bobagem. O país gastou uma soma razoável com a Copa — e poderia
tê-lo feito sem roubalheira —, mas é uma conta energúmena achar que esse
dinheiro contribuiria para minorar de forma significativa a pobreza.
Não é
verdade que o Brasil gaste pouco com a área social. Ao contrário! Caso gastasse
um pouco menos e houvesse um pouco mais de investimentos, haveria menos pobres
e a necessidade de gastar ainda menos na área social, o que liberaria mais para
investimentos e resultaria em ainda menos pobres. Entenderam a lógica? Investir
pouco e torrar muito em custeio é o caminho da reprodução da pobreza, não da
riqueza. Mas vá tentar explicar isso a um esquerdista estúpido. Se estúpido não
fosse, esquerdista não seria.
A Folha
publica nesta sexta um pequeno e precioso texto, de Gustavo Patu, Dimmi Amora e
Filipe Coutinho. Reproduzo um trecho em azul:
Mesmo mais
altos hoje do que o previsto inicialmente, os investimentos para a Copa
representam parcela diminuta dos orçamentos públicos. Alvos frequentes das
manifestações de rua, os gastos e os empréstimos do governo federal, dos
Estados e das prefeituras com a Copa somam R$ 25,8 bilhões, segundo as
previsões oficiais. O valor equivale a, por exemplo, 9% das despesas públicas
anuais em educação, de R$ 280 bilhões. Em outras palavras, é o suficiente para
custear aproximadamente um mês de gastos públicos com a área. A comparação deve
ser relativizada porque haverá retorno, no futuro, de financiamentos. O
Corinthians, por exemplo, terá de devolver os recursos que custearam o
Itaquerão. Além disso, os gastos da Copa começaram a ser feitos há sete anos —
concentrados nos últimos três.
Retomo
Há,
evidentemente, uma grande diferença entre gastar bastante na área social e
gastar de forma adequada. Mas esse tipo de debate não viceja na demagogia. O
país é hoje refém de grupelhos extremistas que os petistas, na sua, digamos,
ânsia inclusiva, transformaram em interlocutores privilegiados. E com eles é
assim: ou tudo ou sangue.
Reinaldo Azevedo - 23/5/2014.
É ou não é Terça Sem Lei?
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