Roberto
Campos chamava a Petrobrás de “Petrossauro”, e despertava a fúria dos
nacionalistas, tanto de esquerda como de direita. Criaram a alcunha de “Bob
Fields” para descrever o “entreguista”, aquele que, ó céus!, estava disposto a
vender nosso maior patrimônio para os gringos, até mesmo ianques (cruzes!), em
vez de compreender que “o petróleo é nosso”.
Campos
compreendia muito bem, na verdade, que o petróleo é sempre “deles”, dos que
estão no poder. E sabia, também, da típica incompetência do estado como gestor,
let alone a corrupção. Por isso lamentava, quase exasperado, quando os tucanos,
vistos como “neoliberais” por nossa esquerda jurássica (risos), faziam de tudo
para impedir a privatização da Petrobras.
Na já famosa
entrevista no Roda Viva em 1997, em que Campos dá uma boa esculachada em Marco
Aurélio “Top Top” Garcia, eis o que ele diz sobre o assunto:
“Há uma
exceção gritante na paisagem brasileira. O próprio Fernando Henrique – e por
isso ele não pode ser acusado de neoliberal, um neoliberal jamais faria isso –
ele próprio apresentou um projeto de lei vedando a privatização da Petrobras.
Ele podia silenciar sobre o assunto, deixando que a evolução dos acontecimentos
ditasse o melhor rumo. Afinal de contas, nós abolimos o monopólio na
Constituição. Isso permitiria até a privatização da Petrobras se ele quisesse.
Ele se apressou em assumir um compromisso pessoal, e eu espero que seja válido
só durante o tucanato, de não privatizar a Petrosal, Petrobras, o que seja.
Isso foi, a meu ver, uma imprudência porque o Brasil pode precisar privatizar a
“Petrossauro” por motivos fiscais e por motivos cambiais. Afinal de contas,
hoje o petróleo continua sendo o item mais pesado na nossa pauta de importação.
E os esforços da “Petrossauro” estão longe de nos assegurar a auto-suficiência,
estamos correndo para ficar parados. Nós importamos no ano passado 610 mil
barris, que era exatamente o que importamos quando da primeira crise de
petróleo. Estamos correndo para ficar parados.”
De fato,
continuamos longe da autossuficiência, importando derivados de petróleo com
grande rombo nas contas externas, e a Petrobrás acabou privatizada, só que da
pior forma possível: usurpada por uma quadrilha que desviou mais de R$ 10
bilhões de seus cofres!
E o que
fazem os tucanos hoje? O deputado Otávio Leite, do Rio, tem um projeto de lei
que pretende tornar impossível a privatização da Petrobras. Ou seja, não só se
recusam a trazer para o debate o cerne da questão – o fato de que a estatal
sempre correrá o risco de ser capturada por um partido e seus apaniguados
corruptos – como ainda repudia qualquer alternativa de mercado. E o PSDB é
“acusado” de ser “neoliberal” pelos petistas!
Que falta
nos faz um Roberto Campos…
Rodrigo Constantino
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