quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Petrossauro


Roberto Campos chamava a Petrobrás de “Petrossauro”, e despertava a fúria dos nacionalistas, tanto de esquerda como de direita. Criaram a alcunha de “Bob Fields” para descrever o “entreguista”, aquele que, ó céus!, estava disposto a vender nosso maior patrimônio para os gringos, até mesmo ianques (cruzes!), em vez de compreender que “o petróleo é nosso”.

Campos compreendia muito bem, na verdade, que o petróleo é sempre “deles”, dos que estão no poder. E sabia, também, da típica incompetência do estado como gestor, let alone a corrupção. Por isso lamentava, quase exasperado, quando os tucanos, vistos como “neoliberais” por nossa esquerda jurássica (risos), faziam de tudo para impedir a privatização da Petrobras.

Na já famosa entrevista no Roda Viva em 1997, em que Campos dá uma boa esculachada em Marco Aurélio “Top Top” Garcia, eis o que ele diz sobre o assunto:

“Há uma exceção gritante na paisagem brasileira. O próprio Fernando Henrique – e por isso ele não pode ser acusado de neoliberal, um neoliberal jamais faria isso – ele próprio apresentou um projeto de lei vedando a privatização da Petrobras. Ele podia silenciar sobre o assunto, deixando que a evolução dos acontecimentos ditasse o melhor rumo. Afinal de contas, nós abolimos o monopólio na Constituição. Isso permitiria até a privatização da Petrobras se ele quisesse. Ele se apressou em assumir um compromisso pessoal, e eu espero que seja válido só durante o tucanato, de não privatizar a Petrosal, Petrobras, o que seja. Isso foi, a meu ver, uma imprudência porque o Brasil pode precisar privatizar a “Petrossauro” por motivos fiscais e por motivos cambiais. Afinal de contas, hoje o petróleo continua sendo o item mais pesado na nossa pauta de importação. E os esforços da “Petrossauro” estão longe de nos assegurar a auto-suficiência, estamos correndo para ficar parados. Nós importamos no ano passado 610 mil barris, que era exatamente o que importamos quando da primeira crise de petróleo. Estamos correndo para ficar parados.”

De fato, continuamos longe da autossuficiência, importando derivados de petróleo com grande rombo nas contas externas, e a Petrobrás acabou privatizada, só que da pior forma possível: usurpada por uma quadrilha que desviou mais de R$ 10 bilhões de seus cofres!

E o que fazem os tucanos hoje? O deputado Otávio Leite, do Rio, tem um projeto de lei que pretende tornar impossível a privatização da Petrobras. Ou seja, não só se recusam a trazer para o debate o cerne da questão – o fato de que a estatal sempre correrá o risco de ser capturada por um partido e seus apaniguados corruptos – como ainda repudia qualquer alternativa de mercado. E o PSDB é “acusado” de ser “neoliberal” pelos petistas!

Que falta nos faz um Roberto Campos…


Rodrigo Constantino

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