“Neste
país, as notícias ruins são manchetes e as boas saem pequenininhas”, vive
resmungando Lula. Depende do olhar de quem lê ou da folha corrida de quem lê.
Neste domingo, por exemplo, o site de VEJA informou que continua longe do
desfecho judicial o escândalo descoberto em 23 de novembro de 2012 pelos
policiais federais engajados na Operação Porto Seguro. A impunidade da
quadrilha que forjava pareceres de órgãos federais para apressar a liberação de
obras irregulares executadas por empresários malandros é uma notícia ruim para
os brasileiros decentes. Mas muito boa para Lula.
Ele gostou
de saber que, graças ao andar preguiçoso do caso na Justiça, tão cedo não se
juntarão num banco dos réus os delinquentes de estimação que ampliaram
consideravelmente o volume de negociatas depois do ingresso no bando de
Rosemary Nóvoa de Noronha, a Rose. Entre 2004 e 2010, a mulher que costumava
apresentar-se como “namorada do Lula” até a gente que acabara de conhecer
acumulou o posto de segunda-dama da República Lulopetista com o cargo de chefe
do escritório da Presidência em São
Paulo.
Deu-se o
contrário em 13 de novembro, quando o site do Superior Tribunal de Justiça
divulgou o que foi uma ótima notícia para gente honesta e péssima para Lula: “O
STJ acolheu o pedido da Infoglobo e do jornalista Thiago Herdy Lana para terem
acesso aos gastos efetuados com o cartão corporativo do governo federal
utilizado por Rosemary Nóvoa de Noronha, com as discriminações de tipo, data,
valor das transações e CNPJ/razão social”. Thiago Herdy só recorreu ao STF
depois de buscar inutilmente essas informações na Secretaria de Comunicação
Social da Presidência.
Em resposta
à solicitação, o órgão limitou-se a liberar a planilha que registra, sem
discriminá-los, os gastos efetuados por Rosemary Noronha entre 2003 e 2011.
Para o ministro Napoleão Nunes Maia Filho, relator do caso no STJ, a esperteza
da Secretaria de Comunicação Social configurou uma “violação ilegal do direito
líquido e certo da empresa e do jornalista de terem acesso à informação de
interesse coletivo”. Segundo Maia Filho, o pleno acesso aos extratos que
detalham a gastança “é assegurado pela Constituição e regulamentado pela
Lei de Acesso à Informação”.
Além do
valor de cada transação, logo se saberá onde, quando e para quê a mulher que se
apresentava aos comparsas como “namorada do Lula” sacou da bolsa o cartão
corporativo do governo federal que ganhou junto com o empregão no escritório
presidencial. As esquivas do Planalto, o sumiço de Rose e o silêncio do
parceiro fortalecem a suspeita de que é de bom tamanho o teor explosivo das
informações ainda secretas. Todas, admita-se, são menos graves que as evocadas
pelo Ministério Público para denunciar Rose por formação de quadrilha,
corrupção passiva, tráfico de influência e falsidade ideológica.
Mas,
contempladas por Lula, decerto parecerão mais constrangedoras e
desmoralizantes. Conjugadas, vão confirmar que o caso Rose é o primeiro
escândalo que o ex-presidente que nunca sabe de nada está impedido de
terceirizar, ou enterrar na cova rasa onde jazem os muitos casos de polícia que
o chefe debitou na conta dos chefiados. Não houve intermediários entre Luiz
Inácio e Rosemary. Foi ele quem instalou a segunda-dama no comando do
escritório presidencial que acabaria reduzido a sucursal de quadrilha. Foi ele
quem fantasiou de mãe-da-pátria uma soberba nulidade.
Também foi
ele quem ordenou a Dilma que mantivesse no cargo a vigarista de estimação. Foi
ele quem presenteou a companheira com 23 viagens internacionais a bordo do
Aerolula. Foi ele quem transformou delinquentes amigos da amiga em diretores de
agências reguladoras. Foi ele quem confundiu interesses públicos com prazeres
privados. Foi ele, enfim, o protagonista da chanchada porno-política que
produziu, como constata a postagem reproduzido na seção Vale Reprise, pelo menos 40
perguntas à espera de respostas ou álibis que não há.
Para quem respeita a lei, foi uma ótima notícia. Merecia manchete.
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