Desde a
chegada de Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, em 1º Jan 2003,
nunca um ministro do PT saiu da cadeira chutando tantas portas como Marta
Suplicy, que entregou sua carta de demissão nesta terça-feira (11.nov.2014).
No trecho
mais explosivo de sua carta, Marta escreveu: “Todos nós, brasileiros,
desejamos, neste momento, que a senhora [Dilma Rousseff] seja iluminada ao
escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica
independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade
ao seu governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de
estabilidade e crescimento para o nosso país”.
Como é
senadora pelo PT de São Paulo, Marta terá pela frente mais 4 anos de mandato
para azucrinar a vida do Palácio do Planalto.
Quem olha
de fora e não acompanha política poderá dizer: “Qual é a importância política
da saída da ministra da Cultura? Nenhuma”. É um erro pensar dessa forma e
minimizar esse fato. Trata-se do sinal mais relevante e eloquente desta fase
pós-eleitoral. A saída de Marta sintetiza a seguinte conjuntura:
1) PT
fracionado: o partido da presidente da República tem várias alas insatisfeitas
a respeito da forma como o governo vem sendo tocado. Marta representa uma
dessas facções, de tamanho não desprezível: ela foi eleita senadora em 2010 com
8.314.027 votos.
Marta
raramente esteve à vontade para conversar sobre política com Dilma. É verdade
que a agora ex-ministra da Cultura cometeu um erro tático ao defender em
público, no primeiro semestre deste ano, a volta de Luiz Inácio Lula da Silva.
Só que
Dilma venceu a eleição. O que teria custado ter uma atitude magnânima e chamar
os petistas que viraram o nariz para ela durante a campanha? Ocorre que a
presidente reeleita preferiu se isolar ainda mais após a vitória. Apesar do
discurso protocolar de governar com e para todos, sua atitude exalou um recado
diferente: “Os incomodados que se retirem”.
Quem
governa com o fígado acaba tornando os problemas maiores do que já são. Dilma
pode odiar Marta Suplicy. Faz parte. Mas a ministra demissionária pertence ao
PT e agora será por muito tempo uma voz discordante no Senado – o Palácio do
Planalto poderia ter evitado esse desfecho, mas deixou tudo correr solto.
Como
consequência, em 2015, o PT começará seu pior ano (em termos de coesão interna)
desde a chegada ao poder, há 12 anos;
2) 2018 em
aberto: tudo o que um presidente da República não precisa é começar um novo
mandato com a sua sucessão completamente em aberto. Hoje, no PT, não há o menor
consenso a respeito de quem poderia ser o nome para disputar o Planalto em
2018. Pior do que isso. Começam a aparecer teses como a do governador do Rio
Grande do Sul, Tarso Genro (PT), que sugere uma frente de esquerda escolhendo
um candidato presidencial não necessariamente petista.
Nesse
ambiente, o partido gastará energia numa disputa interna fratricida em prejuízo
do segundo mandato de Dilma Rousseff;
3) Base
aliada desarranjada: o PT é o maior partido da Câmara a partir de 2015, mas
terá apenas 69 deputados – só 3 a mais do que os 66 do PMDB. Um peemedebista,
Eduardo Cunha (RJ), é hoje o candidato mais forte a presidir a Câmara, mesmo
sendo um desafeto de Dilma Rousseff.
Em
fevereiro de 2015, Dilma terá de enfrentar um cenário que combinará a) uma
economia ainda anêmica (ou em recessão) e b) a chegada oficial ao Congresso de
todas as acusações contra políticos aliados do governo no escândalo da
Petrobras.
Como Dilma
Rousseff poderia contornar todo esse cenário adverso? No curto prazo, terá de
“obedecer” Marta Suplicy e nomear “uma equipe econômica independente,
experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu
governo”. Só que o efeito psicológico inicial será diluído ao longo do tempo.
Não haverá consequência prática a ser sentida pelos brasileiros, que continuarão
a viver num clima de crescimento medíocre da economia (ou até de recessão).
No fundo,
resta a Dilma Rousseff torcer para que o país retorne rapidamente a uma rota de
crescimento mais acelerado –pois aí terá sua popularidade resgatada e o apoio
político no Congresso então se materializa por decantação.
Ocorre que
esse cenário mais tranquilo para Dilma só existe nas análises edulcoradas de
alguns governistas.
A verdade é
a que Marta Suplicy deixou explícita em sua carta: mostrou que o governo de Dilma
Rousseff está nu neste momento.
Fernando Rodrigues.
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