segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Dilema da catraca

O dilema da catraca: não há populismo que dure para sempre

Todos se lembram do estopim para as manifestações de junho de 2013: o aumento fora de hora da tarifa de ônibus. É verdade que os manifestantes gritavam que não eram só os vinte centavos, mas o aumento do transporte público foi o símbolo da revolta contra a má qualidade dos serviços prestados pelo estado ou por meio de concessões controladas por ele. A solução encontrada foi ganhar tempo, empurrar o problema com a barriga.
Mas a defasagem das tarifas já está acima de 15%, como mostra reportagem do Valor. É inevitável um aumento, e o risco de quebra de contratos é alto, o que prejudicaria os investimentos tão necessários ao país.
“Governos estaduais e municipais se veem agora diante do seguinte dilema: ou aumentam o valor da passagem, contrariando a voz das ruas, ou colocam mais dinheiro em subsídios, fragilizando as contas públicas”, resume o jornal. E continua:
A alternativa – ignorar o assunto – implica o risco de encarar uma espiral de ações judiciais movidas pelo setor. “É preciso que haja respeito aos contratos”, diz o presidente da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Otávio Cunha. Segundo ele, se não houver resposta à defasagem na remuneração garantida em contrato pela prestação dos serviços, a tendência é uma onda de cobranças no âmbito administrativo e na Justiça.
Governos populistas conseguem fingir que a realidade não existe, mas apenas por algum tempo. É impossível manter o populismo indefinidamente, ao menos sem impor um custo insuportável a todos. O barato sai caro. Ao fingir que bastava decretar o congelamento de tarifas, os governos estaduais e municipais plantaram as sementes de uma bomba relógio que deve estourar agora.
Nesse caso, a culpa não é do governo federal. Mas ele tem dado o caminho das pedras, ao ser o primeiro a praticar represamento de preços, modicidade tarifária e outras medidas populistas. Essa prática já causou um rombo de dezenas de bilhões no setor elétrico e na Petrobras. Agora é a vez dos transportes. Um dia a conta do populismo chega. É inexorável…
Rodrigo Constantino

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