O PT está
no poder, fazendo Collor parecer um mero aprendiz. Por que o PT era democrático
então e os que exigem punição aos corruptos de hoje são ‘golpistas’?
Esquerda e
direita são conceitos que, no Brasil, costumam gerar muita confusão, após
décadas de monopólio da virtude por parte da esquerda. Por isso é melhor adotar
a divisão entre populistas e republicanos. Eis o grande embate da atualidade.
De um lado,
temos aqueles que defendem governantes que gostam de distribuir a riqueza
alheia, sem construir as bases que efetivamente permitem a criação de mais
riqueza. Do outro, temos os que desejam reformas estruturais que possibilitem
um ambiente mais amigável aos negócios, à iniciativa privada, para que o Brasil
possa ir na direção dos países desenvolvidos.
Uns
aplaudem esmolas que criam dependência dos mais pobres, perpetuando a pobreza,
máquina de votos. Outros cobram responsabilidade individual e aceitam um assistencialismo
básico, desde que descentralizado, com porta de saída e fornecido pelo Estado,
não pelo governo para terrorismo eleitoral depois.
Do lado
populista, temos o resgate da velha máxima “rouba, mas faz”, com vista grossa a
todos os infindáveis escândalos de corrupção, só por se tratar de um governo de
esquerda. Do lado republicano, estão aqueles que não aceitam compactuar com
essa roubalheira, supostamente favorável aos mais pobres.
Populistas
olham para o aqui e agora, adotando visão imediatista de curto prazo.
Republicanos querem construir sólidas instituições, preocupam-se mais com o
processo, pois entendem que somente isso permite o progresso sustentável no
longo prazo.
Os
populistas falam em nome da democracia, mas não a valorizam de verdade.
Idolatram as piores ditaduras do mundo, como o regime socialista cubano, e
enaltecem o modelo venezuelano de “democracia direta”, na prática outra
ditadura disfarçada. Republicanos respeitam o processo democrático, desde que
preservando-se seus pilares básicos, como pluralidade partidária, limites
constitucionais ao Poder Executivo, divisão de poderes e liberdade de imprensa.
Do lado
econômico, populistas aceitam mais inflação para financiar os crescentes gastos
públicos, e repudiam qualquer tipo de austeridade do governo. Republicanos
entendem que o governo jamais pode gastar mais do que arrecada, e que a
inflação é o mais nefasto imposto que existe, pois penaliza de forma
desproporcional os mais pobres.
O Brasil é
“governado” por populistas há 12 anos. Mas nesta eleição o lado republicano
acordou. Milhões de pessoas, da esquerda civilizada à direita conservadora,
uniram-se em prol de uma candidatura que virou um movimento de resgate dos
valores republicanos, destruídos ao longo do avanço petista. O patriotismo
renasceu, a indignação floresceu, e muitos estão cansados dos abusos chavistas,
da impunidade, do aparelhamento do Estado, dos constantes ataques à liberdade
de imprensa.
Manifestações
espontâneas tomaram as ruas, e isso apavora os populistas, pois sempre as
julgaram sua propriedade particular. Automaticamente, tentam pintar esses
manifestantes como ícones da direita radical golpista, tomando a exceção como a
regra. Se um infeliz pede a volta dos militares, então milhares de republicanos
são acusados de antidemocráticos. Por pessoas que elogiam Fidel Castro!
A
República, como diz o nome, é a “coisa pública”, ao contrário do
patrimonialismo, que trata o Estado como “cosa nostra”. É exatamente isso que
esses milhões de pessoas estão demandando: a valorização de nossas instituições
de Estado, contra uma quadrilha que se apossou dele para instalar um sistema de
corrupção jamais visto na história deste país. Queremos meritocracia, e não
peleguismo. Queremos punição aos corruptos, não que sejam tratados como heróis
injustiçados pelo partido no poder.
Não vai
colar a acusação de golpismo. Quando Lula era oposição, foi às ruas cobrar o
impeachment de Collor, hoje seu aliado. Defendeu que era maravilhosa essa
pressão popular contra governantes corruptos. O que mudou? O PT está no poder,
fazendo Collor parecer um mero aprendiz. Por que o PT era democrático então e
os que exigem punição aos corruptos de hoje são “golpistas”?
Nada disso.
Os republicanos vão continuar nas ruas, nas redes sociais, pois a oposição
despertou de sua sonolência. Nos Estados Unidos, os republicanos foram acusados
de radicais pela imprensa progressista, mas deram uma sova em Obama nas urnas,
mostrando como se faz oposição em uma democracia sólida. Vamos repetir isso
aqui.
No próximo
dia 15, aniversário de nossa República, vamos todos às ruas protestar contra o
populismo, esse câncer que corrói nossas instituições. Republicanos, uni-vos!
Rodrigo Constantino - O Globo, 11/11/2014
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