segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A Batalha Federativa

A BATALHA FEDERATIVA

Editorial do jornal Zero Hora, de Porto Alegre

Há quatro anos, após a eleição de Dilma Rousseff, escrevi um artigo em ZH, denominado “A casa dividida”. Era uma alusão ao discurso de Abraham Lincoln, acerca da divisão dos Estados Unidos da América, entre o Sul arcaico e o Norte rico, industrializado e próspero. No caso do Brasil, era o contrário, pois a vitória da candidata do PT se dera especialmente nos locais menos desenvolvidos e propensos aos manejos eleitoreiros de políticas populistas, o que conflitava com os resultados nos Estados mais desenvolvidos, prósperos e socialmente justos. Passados quatro anos, vê-se que a “casa” se dividiu ainda mais. A sua estabilidade está, na verdade, por um fio.

A barreira que separa o Brasil mais progressista e desenvolvido do Brasil mais atrasado, econômica, social e politicamente, aumentou. Aproxima-se, pois, o que poderá ser uma crise federativa sem precedentes.

Oxalá seja uma oportunidade que traga soluções, especialmente para o Rio Grande do Sul, liderado pelo governador eleito, pois só pela pressão política e da sociedade civil o Congresso Nacional aceitará avançar com reformas políticas e tributárias que enfrentem o balcão de negócios dos partidos políticos, o financiamento de campanhas eleitorais, a sub-representação eleitoral e congressual dos Estados do Sul e Sudeste, a aniquilação tributária de Estados e municípios por parte da União Federal, e, especialmente, a fundamental, insubstituível e impostergável renegociação completa da dívida estadual.

Urge, pois, que o Rio Grande não se apequene nessa autêntica e democrática batalha federativa, que reconstrua a justiça na repartição dos recursos federais e na representação parlamentar. Caberá, pois, à presidente Dilma, um papel extraordinário, de saber fazer a devida leitura do contexto atual, a fim de agregar as forças políticas em busca das reformas de que o país precisa. Deverá, pois, construir pontes rumo aos setores que representam a metade do eleitorado e que deram um duro sinal ao governo. Do contrário, dificilmente o seu governo terá êxito e poderá sofrer a mais dura, implacável e avassaladora oposição que o país já teve.


MIGUEL TEDESCO WEDY - Advogado e Professor da Unisinos.






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