É
perturbador o painel das alianças que mobilizam líderes partidários às vésperas
da eleição, repetindo de forma ampliada uma prática consagrada pela política
brasileira. Em todos os níveis, e envolvendo governistas e oposição,
disseminam-se acordos que denunciam oportunismos, incoerência e posturas
desrespeitosas em relação ao eleitor e às suas expectativas. Registre-se, como
exemplo recente de movimento de acomodação de interesses, o afastamento do
ministro dos Transportes, César Borges (PR), porque seu partido passou a
desconsiderá-lo como representativo para ocupar cargo tão importante no
Executivo.
O ministro
chegara ao posto como beneficiário de um acordo, e não necessariamente por sua
habilitação para uma das mais importantes pastas do governo. Caiu, não porque
passou a ter sua competência questionada, mas para que a agremiação a que
pertence se aproprie de uma vaga que considera sua na Esplanada dos
Ministérios.
Espaços
políticos, como o citado, deixaram de ser compartilhados por afinidades programáticas.
Negocia-se tudo e com os mais variados objetivos. Num primeiro momento, um
acordo pode significar mais tempo na propaganda eleitoral na TV. Mais adiante,
com as definições do poder, significa cargos, acesso à gestão de verbas,
favorecimentos a apadrinhados nas chamadas bases partidárias e, com frequência,
tráfico de influência e corrupção. Com 32 partidos em atividade, um exagero em
qualquer democracia, o Brasil vem ampliando, ao invés de reduzir, o número de
siglas.
Não há
racionalidade política capaz de pôr ordem em tantos interesses, muitos dos
quais sem nenhuma relação com as demandas do país. Registre-se que a orgia que
se repete este ano não poupa os chamados grandes partidos e não distingue as
práticas de situação e oposição. Em nome de um falso pragmatismo, o vale-tudo
contagia a todos, com as exceções que apenas confirmam a prevalência de um
comportamento condenável, sob todos os aspectos.
As
combinações, dentro e fora do governo, por mais esdrúxulas que sejam, estão
dentro da lei, o que apenas comprova que a inconsistência da representação
política brasileira se sustenta num lastro legal. O que falta é base moral aos
atos dos líderes, acentuados a três meses do pleito. Os brasileiros merecem,
para fortalecimento da democracia, partidos que se sustentem em programas
tornados públicos e postos em prática, e não em interesses imediatistas.
A
incoerência chegou ao ponto de unir desiguais ideológicos em todos os níveis e
de criar alianças regionais conflitantes com os conchavos nacionais. São
distorções que poderiam ser pelo menos reduzidas com uma reforma política. Mas
seria ingênuo demais pretender que os protagonistas dos acertos de ocasião
conspirem contra o mercado de transações que os sustenta.
Diário Catarinense - Florianópolis.
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