Crescimento
da pobreza na Venezuela se acelera e põe em xeque retórica chavista
CARACAS -
Quando o governo venezuelano se defendia dos seus críticos, sempre mencionava a
redução da pobreza como prova do seu sucesso. Durante um período, a estratégia
funcionou - o número de pobres diminuiu durante parte dos anos em que Hugo
Chávez presidiu o país. Mas os dias em que a pobreza era indicativa do triunfo
do chavismo terminaram. Hoje, as estatísticas oficiais mostram que a pobreza
aumenta rapidamente.
Há algumas
semanas o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) trouxe uma prova de que um a
cada três venezuelanos é pobre - há 12 meses essa proporção era de um para
quatro. Como parte importante do discurso contra a oposição é de que o governo,
e apenas ele, é responsável pela redução da pobreza, esta é uma variação
importante.
Para
determinar o índice de empobrecimento, o INE calcula o custo de uma cesta de
produtos que inclui alimentação, vestuário, habitação, transporte, saúde,
comunicação e educação. A cesta é uma amostra do tipo de coisas que uma família
de nível médio consome durante um ano. Se a renda per capita cai abaixo do
custo desta cesta, a pessoa é considerada pobre.
Com base
neste sistema de medição, o número de venezuelanos pobres aumentou no ano
passado em 1,8 milhão de pessoas. Aproximadamente 6% da população venezuelana,
de 30 milhões de pessoas, ficaram pobres só no ano passado.
A situação
é ainda pior quando se trata da pobreza extrema, ou seja, o número de pessoas
cuja renda não é suficiente nem mesmo para comprar uma cesta de alimentos. No
ano passado o número de venezuelanos nesta situação aumentou em 730 mil,
totalizando quase três milhões - aproximadamente 10% da população.
A revolução
chavista de fato ajudou os pobres venezuelanos entre 2003 e 2007, mas desde
aquele ano o número de pobres na verdade aumentou.
Isso
deve-se à política econômica chavista. Quando o preço do petróleo subiu, há
cerca de 10 anos, o Estado venezuelano encheu seus cofres com o enorme fluxo de
receita e usou os recursos para criar uma enorme rede de subsídios e controles
de preços. Ao mesmo tempo, usou os ganhos com o petróleo em programas sociais e
subsídios para reforçar o apoio das classes menos favorecidas.
A pobreza
na Venezuela de Chávez em meados dos anos 2000 de fato diminuiu e o governo
manteve os preços artificialmente baixos graças à moeda sobrevalorizada e à
importação subsidiada. As pessoas que se beneficiavam dos programas sociais do
governo encontravam tudo o que precisavam para comprar uma vez que o governo
garantia as importações e os preços baixos. Isto não podia durar.
Durante a
campanha de 2012 para reeleger Chávez, os gastos do governo mais do que
duplicaram. De repente o boom do petróleo não era mais suficiente para
sustentar as necessidades sociais crescentes. Naquele ano o déficit
orçamentário disparou para mais de 10% do PIB. O preço do petróleo já não
aumentava tanto e o financiamento externo começou a diminuir. Embora o governo
continuasse a ter apoio nas urnas, a bolha estava prestes a explodir para os
pobres da Venezuela.
Desde que
assumiu no ano passado, o presidente Nicolás Maduro viu a moeda local se
desvalorizar de 4,3 para até 70 bolívares por dólar, dependendo da taxa de
câmbio utilizada. Assim, os preços da maior parte dos produtos de consumo
também aumentaram. A inflação anual está próxima dos 60%.
A abrupta
queda do nível de vida foi o que levou os manifestantes para as ruas do país.
Muitas das pessoas que protestam são o que podemos chamar de "pobres
emergentes", que foram de classe média durante o boom, mas viram sua
situação econômica piorar desde então.
No final, a
vitória do chavismo contra a pobreza é apenas retórica. Os poucos ganhos foram
devidos a um governo que converteu a alta do petróleo num crescimento do
consumo passageiro. Essa fase terminou e a pobreza retorna para sua tendência
de longo prazo. A hora da verdade aproxima-se rapidamente para o modelo chavista
populista. A rapidez com que chegará vai depender do preço do petróleo. Mas se
o preço do petróleo cair, a pobreza continuará aumentando e os novos pobres
continuarão nas ruas.
Juan Nagel -
O Estadão - 8 Junho 2014
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